terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

MANUEL BANDEIRA

DESENCANTO

Eu faço versos como quem chora
De desalento... de desencanto...
Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.
Meu verso é sangue. Volúpia ardente...
Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.
E nestes versos de angústia rouca
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.-
Eu faço versos como quem morre.






O ÙLTIMO POEMA

Assim eu quereria o meu último poema.
Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais
Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas
Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume
A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos
A paixão dos suicidas que se matam sem explicação.

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Canto de Natal

Manuel Bandeira


O nosso menino

Nasceu em Belém.

Nasceu tão-somente

Para querer bem.


Nasceu sobre as palhas

O nosso menino.

Mas a mãe sabia

Que ele era divino.


Vem para sofrer

A morte na cruz,

O nosso menino.

Seu nome é Jesus.


Por nós ele aceita

O humano destino:

Louvemos a glória

De Jesus menino.


A poesia acima foi extraída da "Antologia Poética - Manuel Bandeira", Editora Nova Fronteira - Rio de Janeiro, 2001, pág. 137.

Manuel Bandeira: sua vida e sua obra estão em "Biografias".

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